Cemitério com 900 anos do Ribât da Arrifana investigado por arqueólogos (Aljezur, Portugal)
21/8/14 .- http://www.sulinformacao.pt/
Cemitério com 900 anos do Ribât da Arrifana investigado por arqueólogos (Aljezur, Portugal)
Sete das sepulturas do cemitério do Ribât da Arrifana, situado na Ponta da Atalaia, na costa de Aljezur, foram escavadas pela equipa de arqueólogos coordenada pelo casal Rosa e Mário Varela Gomes, numa curta campanha nos últimos quinze dias de Julho.
Uma dessas sepulturas do século XII pertencia a Ibrāhīm bn Sulaymān bn Hayyān, que seria talvez um dos monges deste mosteiro islâmico ou um peregrino que aí acabou por falecer no ano de 1148 A.D. Ou quem sabe, como sublinhou Rosa Varela Gomes, «será que ele pereceu durante uma batalha e foi aqui sepultado?»
Como é que os investigadores sabem o nome deste homem sepultado numas das cerca de sete dezenas de sepulturas já descobertas na necrópole situada junto ao antigo Ribât? Graças a uma estela epigrafada – ou seja uma lápide com uma inscrição gravada na pedra – que foi descoberta há dois anos, ainda colocada na cabeceira da sepultura.
Esta e outra estela descobertas no cemitério islâmico são mesmo consideradas um achado de grande importância e até raridade, como explicou ao Sul Informação a arqueóloga Rosa Varela Gomes: «as duas estelas epigrafadas, que encontrámos no Ribat da Arrifana, são as únicas que se conhecem in situ na Península Ibérica».
Das sete sepulturas, outra apresenta também um aspeto curioso, já que se trata do esqueleto de uma mulher. «Não sabemos se era uma mulher que aqui vivia», disse a arqueóloga, o que até seria de algum modo fora do comum, uma vez que este era um local de recolhimento de monges-guerreiros islâmicos.
Apesar do calor, do vento e do sol forte a bater, a equipa dedicou-se a escavar, com mil cuidados, os esqueletos sepultados naquela pequena península sobre o mar, há nove séculos. Por vezes, foi preciso aos jovens arqueólogos deitar-se na terra, com a cabeça pendurada para dentro da cova, a centímetros dos ossos seculares.
«Não há muitas necrópoles tão bem conservadas com esta cronologia», explicou Rosa Varela Gomes.
Dez metros da muralha sul identificados este ano
Mas o levantamento dos sete esqueletos em outras tantas sepulturas não foi a única novidade dos curtos quinze dias da campanha de escavações deste Verão, no Ribât da Arrifana.
«A grande novidade foi a identificação de troço de muralha, com cerca de 10 metros, que a Sul fecharia o Ribât», explicou Rosa Varela Gomes. Mais um elemento para tentar reconstruir a história deste ribât, que foi, no ano passado, classificado como monumento nacional.
A campanha de escavações contou com uma equipa coordenada por Rosa e Mário Varela Gomes, que integrava ainda dez alunos do Mestrado e Licenciatura em Arqueologia da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, bem como com as antropólogas Nathalie Antunes Ferreira e Filipa Amado dos Santos.
A presença das duas antropólogas é fundamental para acompanhar o levantamento e fazer o estudo posterior dos restos osteológicos, ou seja, dos esqueletos retirados do antigo cemitério. Depois do trabalho de campo, «os espólios osteológicos estão agora a ser limpos e estudados no Laboratório de Arqueologia da FCSH da UNL», adiantou Rosa Varela Gomes.
Depois de, nos primeiros anos, as campanhas de escavações arqueológicas terem contado com o apoio logístico e financeiro da Câmara de Aljezur e da Fundação Gulbenkian, esta campanha só foi possível graças ao projeto de investigação financiado pela Fondation Max van Berchem, de Genebra.
Desta vez, lamentou Mário Varela Gomes, «a Câmara não nos deu alojamento nem transporte, como em anos anteriores, o que é lamentável. Dinheiro não pedimos. Apenas precisávamos de apoio logístico, nomeadamente que nos deixassem alojar os alunos no gimnodesportivo de Aljezur».
Um mestre sufi a braços com os cristãos
Desde há doze anos, ou seja, desde 2002, que o casal de arqueólogos Mário e Rosa Varela Gomes coordena as escavações na ponta da Atalaia, um pequeno promontório rochoso, que parece avançar pelo mar fora, no litoral de Aljezur.
Na sua ponta, no conturbado século XII, existiu um ribât, uma espécie de mosteiro-fortaleza, habitada por monges-guerreiros muçulmanos que faziam voto de pobreza, comandados pelo célebre Ibn-Qasi, um mestre sufi que aí terá habitado, com a sua comunidade, quando tinha já às suas portas os cavaleiros cristãos de D. Afonso Henriques.
Ao longo de uma dezena de campanhas arqueológicas, os investigadores já puseram a descoberto diversas estruturas do antigo mosteiro-fortaleza, nomeadamente a base do minarete circular, mesquitas com os seus mihrabs (oratórios virados para Meca), a escola corânica (madrasa) e a necrópole. Porque se trata de campanhas arqueológicas curtas, muito trabalho há ainda a fazer, de tal forma que apenas cerca de um terço de todo o ribât estará já escavado.
O ribât da Ponta da Atalaia é considerado a estrutura do seu género mais importante de toda a Península Ibérica e a sua descoberta tem suscitado o interesse de investigadores em toda a Europa. Trata-se, segundo sublinhou Rosa Varela Gomes, do «sítio arqueológico islâmico mais ocidental da Europa».
Classificada como monumento nacional no ano passado – o único de todo o concelho de Aljezur – o ribât situa-se em terrenos privados, não tendo avançado ainda a compra por parte do Estado, que chegou a estar prevista na primeira versão das intervenções da Sociedade Polis Litoral Sudoeste.
Ao longo dos anos de trabalhos arqueológicos, o Ribât da Arrifana tem recebido a visita de inúmeros cidadãos de países islâmicos, alguns bem ilustres, nomeadamente príncipes, embaixadores e outros altos dignitários.
Desses contactos, sempre se esperou que surgisse algum apoio, tendo em conta a importância histórica que o local tem para os muçulmanos. Mas até agora nada aconteceu.
Sete das sepulturas do cemitério do Ribât da Arrifana, situado na Ponta da Atalaia, na costa de Aljezur, foram escavadas pela equipa de arqueólogos coordenada pelo casal Rosa e Mário Varela Gomes, numa curta campanha nos últimos quinze dias de Julho.
Uma dessas sepulturas do século XII pertencia a Ibrāhīm bn Sulaymān bn Hayyān, que seria talvez um dos monges deste mosteiro islâmico ou um peregrino que aí acabou por falecer no ano de 1148 A.D. Ou quem sabe, como sublinhou Rosa Varela Gomes, «será que ele pereceu durante uma batalha e foi aqui sepultado?»
Como é que os investigadores sabem o nome deste homem sepultado numas das cerca de sete dezenas de sepulturas já descobertas na necrópole situada junto ao antigo Ribât? Graças a uma estela epigrafada – ou seja uma lápide com uma inscrição gravada na pedra – que foi descoberta há dois anos, ainda colocada na cabeceira da sepultura.
Esta e outra estela descobertas no cemitério islâmico são mesmo consideradas um achado de grande importância e até raridade, como explicou ao Sul Informação a arqueóloga Rosa Varela Gomes: «as duas estelas epigrafadas, que encontrámos no Ribat da Arrifana, são as únicas que se conhecem in situ na Península Ibérica».
Das sete sepulturas, outra apresenta também um aspeto curioso, já que se trata do esqueleto de uma mulher. «Não sabemos se era uma mulher que aqui vivia», disse a arqueóloga, o que até seria de algum modo fora do comum, uma vez que este era um local de recolhimento de monges-guerreiros islâmicos.
Apesar do calor, do vento e do sol forte a bater, a equipa dedicou-se a escavar, com mil cuidados, os esqueletos sepultados naquela pequena península sobre o mar, há nove séculos. Por vezes, foi preciso aos jovens arqueólogos deitar-se na terra, com a cabeça pendurada para dentro da cova, a centímetros dos ossos seculares.
«Não há muitas necrópoles tão bem conservadas com esta cronologia», explicou Rosa Varela Gomes.
Dez metros da muralha sul identificados este ano
Mas o levantamento dos sete esqueletos em outras tantas sepulturas não foi a única novidade dos curtos quinze dias da campanha de escavações deste Verão, no Ribât da Arrifana.
«A grande novidade foi a identificação de troço de muralha, com cerca de 10 metros, que a Sul fecharia o Ribât», explicou Rosa Varela Gomes. Mais um elemento para tentar reconstruir a história deste ribât, que foi, no ano passado, classificado como monumento nacional.
A campanha de escavações contou com uma equipa coordenada por Rosa e Mário Varela Gomes, que integrava ainda dez alunos do Mestrado e Licenciatura em Arqueologia da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, bem como com as antropólogas Nathalie Antunes Ferreira e Filipa Amado dos Santos.
A presença das duas antropólogas é fundamental para acompanhar o levantamento e fazer o estudo posterior dos restos osteológicos, ou seja, dos esqueletos retirados do antigo cemitério. Depois do trabalho de campo, «os espólios osteológicos estão agora a ser limpos e estudados no Laboratório de Arqueologia da FCSH da UNL», adiantou Rosa Varela Gomes.
Depois de, nos primeiros anos, as campanhas de escavações arqueológicas terem contado com o apoio logístico e financeiro da Câmara de Aljezur e da Fundação Gulbenkian, esta campanha só foi possível graças ao projeto de investigação financiado pela Fondation Max van Berchem, de Genebra.
Desta vez, lamentou Mário Varela Gomes, «a Câmara não nos deu alojamento nem transporte, como em anos anteriores, o que é lamentável. Dinheiro não pedimos. Apenas precisávamos de apoio logístico, nomeadamente que nos deixassem alojar os alunos no gimnodesportivo de Aljezur».
Um mestre sufi a braços com os cristãos
Desde há doze anos, ou seja, desde 2002, que o casal de arqueólogos Mário e Rosa Varela Gomes coordena as escavações na ponta da Atalaia, um pequeno promontório rochoso, que parece avançar pelo mar fora, no litoral de Aljezur.
Na sua ponta, no conturbado século XII, existiu um ribât, uma espécie de mosteiro-fortaleza, habitada por monges-guerreiros muçulmanos que faziam voto de pobreza, comandados pelo célebre Ibn-Qasi, um mestre sufi que aí terá habitado, com a sua comunidade, quando tinha já às suas portas os cavaleiros cristãos de D. Afonso Henriques.
Ao longo de uma dezena de campanhas arqueológicas, os investigadores já puseram a descoberto diversas estruturas do antigo mosteiro-fortaleza, nomeadamente a base do minarete circular, mesquitas com os seus mihrabs (oratórios virados para Meca), a escola corânica (madrasa) e a necrópole. Porque se trata de campanhas arqueológicas curtas, muito trabalho há ainda a fazer, de tal forma que apenas cerca de um terço de todo o ribât estará já escavado.
O ribât da Ponta da Atalaia é considerado a estrutura do seu género mais importante de toda a Península Ibérica e a sua descoberta tem suscitado o interesse de investigadores em toda a Europa. Trata-se, segundo sublinhou Rosa Varela Gomes, do «sítio arqueológico islâmico mais ocidental da Europa».
Classificada como monumento nacional no ano passado – o único de todo o concelho de Aljezur – o ribât situa-se em terrenos privados, não tendo avançado ainda a compra por parte do Estado, que chegou a estar prevista na primeira versão das intervenções da Sociedade Polis Litoral Sudoeste.
Ao longo dos anos de trabalhos arqueológicos, o Ribât da Arrifana tem recebido a visita de inúmeros cidadãos de países islâmicos, alguns bem ilustres, nomeadamente príncipes, embaixadores e outros altos dignitários.
Desses contactos, sempre se esperou que surgisse algum apoio, tendo em conta a importância histórica que o local tem para os muçulmanos. Mas até agora nada aconteceu.
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